PONTO EXTREMO OCIDENTAL DA REGIÃO NORTE (PEOCRN) E DO BRASIL * OESTE *
Dia 02/07/2016
Continuando a viagem depois de termos passado pelo Ponto Extremo Meridional da Região Norte, por Porto Velho-RO, Abunã-RO, Rio Branco-AC, Sena Madureira-AC, Feijó-AC, Tarauacá-AC, Cruzeiro do Sul-AC, Mâncio Lima-AC e pelo 61º BIS na beira do rio Môa chegamos à comunidade Pé de Serra, onde conheci algumas atrações do PARNA Serra do Divisor ali por perto. Finalmente depois chegamos ao marco simbólico 76, em mais outros pontos extremos que eu iria instalar outros marcos e depois no PEOCRN e do Brasil, o qual o chamei de Astronômico e onde eu instalaria outro marco também.
Foram quase 4.000 km até Mâncio Lima-AC, uns 250 km de navegação pelo rio Môa, passando por corredeiras e entrando em alguns igarapés e mais uma caminhada árdua pela floresta densa e fechada até os marcos 76, Astronômico e outros.
Pegamos somente uns 100 m de taboca (espécie de bambu com vários espinhos) e ninguém se machucou seriamente. Passamos por várias grotas ou buracos das nascentes dos igarapés, onde tínhamos que aproveitar algum tronco de árvore caído para usá-lo como pinguela ou até mesmo improvisar fazendo uma nova pinguela. Por ali tudo arranhava, espetava, furava ou machucava. O Marco 76 consistia em três hastes de ferro fundido, entrelaçadas por outros ferros circulares, sendo um no meio e outro na parte de cima, com uma plaquinha no alto escrito de um lado “Brasil” e do outro lado “Peru”, e ainda com uma base de cimento redonda com suas coordenadas, sua data de instalação e outros detalhes gravados. Sua data de instalação estava escrita da seguinte forma “26-IX-926”. Engraçado que naquela época não colocavam o “1” do milênio para ficar 1926. Havia uma centopeia gigante em sua base como se fosse a guardiã do local. Eu já tinha conhecido aquela região em 2010 e o marco simbólico 76 em 2012.
Eu e mais dois mateiros/carregadores dos sete que contratei lá na comunidade Pé de Serra fomos em direção aos outros possíveis Pontos Extremos Ocidentais, ou seja, o do Google Earth, do IBGE e do Astronômico, sendo que este último era realmente o PEOCRN e do Brasil. O chamei assim porque soube que na época que andaram demarcando por ali não havia satélites o suficiente para a marcação. Ou seja, além do 76, que era o PEOCRN simbólico, eu ainda passaria em mais outros pontos, assim como havia feito no Ponto Extremo Norte da Região Norte e do Brasil.
Fomos então em direção ao Ponto Extremo, segundo o Google Earth, e passamos por uma grota bem profunda onde, naquele momento, havia uma rara água cristalina e nos abastecemos dela. Mesmo sendo cristalina, me preveni e coloquei um pouco de hipoclorito de sódio na água.
Vimos uma grande árvore caída e havia um recente lameiro feito pelos caititus. Deu para ver suas pegadas e marcas ainda perfeitas. O problema era que, onde tinha esse tipo de animal, quase sempre havia alguma onça por perto a sua espreita, esperando uma oportunidade para atacar.
Retornamos um pouco pela mesma trilha e viramos à direita rumo ao Ponto Extremo segundo o IBGE. Ainda bem que nesta parte, apesar de que a mata estava bem fechada, não havia nenhuma montanha ou penhasco significante e caminhamos mais rápidos para não perdermos tempo.
Voltamos ao 76 para irmos ao Ponto Extremo Astronômico, onde não existia nenhuma marcação, mas de qualquer forma eu passaria por ele e instalaria um marco. Logo no início do caminho para o Astronômico, vimos marcas antigas dos tratores de madeireiros peruanos ilegais que cortavam e roubavam nossas madeiras há alguns anos por ali. Depois, caminhamos entre abismos e grotões que parecia que nos levariam ao mundo perdido dos dinossauros. Qualquer vacilo ali e poderia acontecer um sério acidente, por isso prestei bastante atenção onde pisava. Que lugar mais assombroso, misterioso e fascinante! Creio que pouquíssimas pessoas já pisaram ali. Parecia que, a qualquer momento, veríamos o Mapinguari! Vi no GPS que estávamos a menos de 600 km em linha reta do Oceano Pacífico. O Brasil tinha que ter conquistado uma saída para o Pacífico. Isso faria que nosso país crescesse mais igualmente, como aconteceu com outros países das Américas.
Vimos uma outra grande árvore caída recentemente, e com certeza foi por causa de uma forte ventania que aconteceu por ali. Sua copa de baixo, onde estavam as raízes, tinha uma largura aproximada de 5 m de diâmetro.
Chegamos ao local onde seria o PEOCRN e do Brasil de acordo com as coordenadas fornecidas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Este era realmente o PEOCRN e do Brasil e instalei um marco simbólico, o qual como já disse antes, o chamei de Astronômico só para representar a minha passagem. Com certeza este marco poderá servir de referência e de orientação no futuro.
Voltamos para o 76 e vimos uma onça-parda. Um dos mateiros/carregadores disse que ela era do tipo maçaroca, ou seja, aquela que tem uma lista preta nas costas até a ponta da cauda. Descobri mais um nome desse lindo felino, também chamado de onça-vermelha, sussuarana, puma, leão da montanha e pantera cor-de-rosa. Esse felino ainda era o único existente nas três Américas. Por isso a variedade enorme de nomes. Ela estava comendo as fezes de um mateiro/carregador que havia ficado ali no acampamento junto com os outros nos esperando e levantava para nos espiar. No início, achamos que era outro animal, mas depois deu para perceber bem que era uma onça. Fizemos bastante barulho e jogamos algumas pedras para ela se afastar de nós. Assim como a onça que vi na BR-319 quando fiz a Norte-Sul, aquela também foi se retirando devagar, majestosamente e desconfiada, em sentido contrário. Não deu para fotografá-la com o zoom porque a bateria da máquina profissional estava fraca, mas pelo menos deu para fotografar depois os vários arranhões que ela deixou em uma árvore ali por perto.
Não consegui comer quase nada durante o almoço. Logo depois os mateiros/carregadores arrumaram tudo e saímos do 76 por volta das 14 horas, passando logo em seguida pelo 76-1.
Vi macacos acari, macacos-prego, mutuns, uma paca, um queixada, um caititu e vários jabutis até naquele momento. Passamos novamente pelo pequeno trecho de taboca (bambus com espinhos). Porém, nada tão difícil como em 2012, quando estive ali pela primeira vez e percorri uns 6 km dentro da taboca.
O percurso que eu havia caminhado indo e vindo dos outros Pontos Extremos pesariam naquela tarde. Caminhamos mais 4 km e paramos no final do dia com todo mundo muito cansado.
Os rapazes mais novos do nosso grupo faziam uma zona danada e ficavam fuçando tudo na floresta. Pareciam um monte de investigadores. Não sei como não levaram alguma mordida de cobra ou de outro bicho. Por falar nisso, graças a Deus, não vimos nenhuma cobra, diferentemente de 2012, quando uma surucucu armou o bote a 1 m de distância de mim e escapei por pouco.
Os mateiros/carregadores armaram suas redes a mais de 2 m de altura do chão por causa do medo de cobras e de onças que poderiam aparecer. Por isso, o meu amigo começou a ficar com muito medo à noite e sempre armava a sua barraca no centro do acampamento e perto de todos. Eu morria de rir e ficava tranquilo nas extremidades dos acampamentos. Eita cara medroso!
À noite, enquanto conversávamos no acampamento, pedi para o meu amigo buscar uma coisa na minha barraca e o distraído a deixou aberta. Entraram dezenas de mariposas e de outros insetos que me fizeram ficar a noite quase toda matando-os do lado de dentro da barraca para conseguir dormir. Mais tarde, fez muito frio, mas dessa vez dormi bem agasalhado.